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"Moradores de Damasco (crédito: BBC)"
Um homem espremendo romãs está em uma sombra próxima à mesquita Umayyad, no coração da cidade velha de Damasco.
Ele me dá um copo do suco rosa e espumoso, resfriado por flocos de um grande bloco de gelo, sorri e se recusa a aceitar qualquer dinheiro.
Um muezim com um tom vívido e marcante convoca os fiéis à reza, e seu canto se mistura aos tiros de artilharia que ecoam em volta dos muros da cidade, controlada pelo regime.
Homens e mulheres, até crianças, estão tão acostumados com o som dos bombardeios que eles pararam de encolher com o barulho há muito tempo.
Neste fim de semana, crianças, observadas pelos pais, se esbaldaram na piscina do hotel usado por funcionários da ONU e correspondentes estrangeiros.
Nenhuma das famílias sequer olhou para cima cada vez que os bombardeios do governo, não muito longe dali, ressonavam como uma bateria danificada.
A ampla maioria dos disparos parte de posições do regime.
Os rebeldes, muito melhor armados agora, atiram alguns morteiros de volta, que podem ser fatais, mas têm um alcance menor que a artilharia do Exército sírio.
É muito diferente nos subúrbios, controlados pelos rebeldes, que são o alvo dos bombardeios. Entre eles estão os lugares atingidos pelo ataque de armas químicas.
Em visitas anteriores a Damasco, eu fui a alguns deles, tão destruídos agora pela guerra que quase nenhum prédio está intacto, e algumas ruas estão intransitáveis por causa dos escombros.
Ninguém vai para a piscina lá. A maioria dos civis fugiu, tornando-se parte dos 4 milhões de deslocados dentro da Síria, ou dos 2 milhões que deixaram o país como refugiados.
Fora da mesquita Umayyad, um jovem chamado Walid, com seu cabelo puxado para trás com um gel de aparência molhada, para para rezar. Como muitas pessoas em Damasco, no fim da semana, ele acompanhou a conferência do G-20 em São Petersburgo pela televisão.
'Sim, eu sei que o presidente americano quer nos bombardear, mas nós somos muito fortes, porque somos apoiados pelos chineses e pelos russos. E estamos unidos em prol do presidente Assad.'
Um clérigo muçulmano em visita do Líbano, o xeque Abdul Salim al-Harash, diz estar feliz que os americanos não façam mais tudo a seu modo.
'Nestes dias, outros países como Rússia, África do Sul e Índia podem tomar decisões, e eles são contra a ação militar.'
Mercado negro
O fato, porém, é que a Síria ainda está esperando os resultados de decisões tomadas em outros locais, principalmente em Washington.
Uma semana atrás, quando parecia que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, estava prestes a ordenar um ataque, as áreas de Damasco controladas pelo governo estavam tensas e infelizes.
Eu vi o que isso significava em uma padaria. Os sírios amam suas pilhas de pão quente e cheiroso, e graças a subsídios do governo cada unidade custa menos de R$ 0,40 em padarias estatais.
Filas desordenadas se projetavam fora da padaria e rua abaixo. Homens jovens e meninos escalavam seus portões com barras de aço para ultrapassar mulheres e homens mais velhos que tentavam se aproximar da janela dos pães.
Uma mulher de meia idade, com um véu e vestindo um traje preto, exibia em seu rosto lágrimas de raiva e frustração depois de ter sido expulsa da fila do pão. Ela apontou até homens que saíam com grandes pilhas. A mulher, que não quis dizer seu nome, disse que há comerciantes que revendem ilegalmente o pão por um preço duas ou três vezes maior.
Os ânimos melhoraram quando o presidente Obama determinou que o Congresso americano votasse a ação militar. Agora, porém, o nervosismo retorna enquanto a votação se aproxima.
Mais uma vez, os moradores de Damasco se perguntam se uma nuvem tóxica pode envenená-los caso um míssil americano atinja um depósito de armas químicas, ou se os rebeldes armados nos subúrbios usariam um ataque americano para tentar se aproximar mais dos centros de poder do regime.
Um sírio bem conectado ao regime me perguntou como era estar em uma cidade bombardeada por mísseis americanos.
Eu contei o que vi em Bagdá, no Iraque, e Trípoli, na Líbia: que os mísseis eram precisos e poderosos, e as explosões seriam mais barulhentas que os piores trovões que ele já ouviu.
O importante, eu disse, é ficar longe de prováveis alvos, lugares como bases militares e prédios chave do governo.
Guerra por procuração
Seja qual for o resultado da votação no Congresso americano, a guerra na Síria está entrando em uma nova fase.
Jihadistas, aliados ou afilhados à Al-Qaeda estão cada vez mais proeminentes entre os rebeldes armados. Mas mais do que nunca, a Síria se tornou uma guerra por procuração, um ringue de boxe sem regras no qual potências regionais usam os sírios para travar suas batalhas.
A mais significante é entre a Arábia Saudita e o Irã, que competem por influência do Líbano ao Golfo. Os sauditas apoiam a insurreição, o Irã é o parceiro estratégico mais próximo de Assad.
Mas, para acrescentar outra camada de problema, o presidente dos Estados Unidos quer organizar um ataque contra o regime. Obama não disse se insistirá com o ataque, usando sua prerrogativa presidencial, se perder a votação.
Mesmo que ele aceite um veto do Congresso, isso não significa um fim do envolvimento americano. Ele ainda trabalhará para punir o regime pelo que considera um crime imperdoável, que os homens de Assad dizem ter sido perpetrado pelos rebeldes.
Damasco é uma cidade antiga que viu gerações de guerras. Mark Twain escreveu que em Damasco anos eram apenas momentos. O tempo, ele disse, era medido pelos impérios que a cidade viu surgir e cair.
O presidente Bashar Al-Assad deve estar torcendo para que esta crise seja um marco do declínio dos Estados Unidos no Oriente Médio. O presidente Obama crê que agir é necessário, ou outros ousarão desafiar a nação mais poderosa do mundo.
Cada casa e conjunto de apartamentos em Damasco abriga antenas parabólicas. A televisão oficial síria faz homenagens nacionalistas à bravura das forças armadas.
Mas muitas das TVs em Damasco nos próximos dias estarão sintonizadas no noticiário internacional, quando sírios acompanharão o debate em Washington e tentarão descobrir exatamente o que o homem na Casa Branca poderá enviar.
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