terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Brasil Prevê Investir US$4,5 Bi na Compra de 36 Caças da Sueca Saab

Brasil prevê investir US$4,5 bi na compra de 36 caças da sueca Saab
REUTERS
Por Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA, 18 Dez (Reuters) - O Brasil decidiu que comprará 36 caças da empresasueca Saab, com investimento previsto de 4,5 bilhões de dólares até 2023 e colocando fim a um processo de concorrência que se arrastava há mais de uma década.
O caça Gripen NG, da Saab, era finalista na disputa com o Rafale, da francesa Dassault, e o F-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing.
A disputa foi marcada por muitas idas e vindas, com cada uma das proponentes aparecendo como favorita em diferentes momentos da licitação. O comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), Juniti Saito, disse que a presidente Dilma Rousseff lhe informou sobre sua decisão pela Saab na noite de terça-feira.
As empresas só foram informadas depois que o governo anunciou a decisão, no final da tarde desta quarta-feira, segundo Saito.
"Estou extremamente orgulhoso da confiança que o governo brasileiro colocou no Gripen NG... Estamos preparados para iniciar a colaboração industrial como planejado, com os seus efeitos positivos para a indústria brasileira", disse o CEO da Saab, Hakan Buskhe, em nota.
O ministro da Defesa, Celso Amorim, disse em entrevista coletiva que a escolha da fornecedora de caças foi muito cuidadosa e levou em conta performance, transferência efetiva de tecnologia e custos.
"A escolha se baseia no melhor equilíbrio desses três fatores", afirmou o ministro.
Segundo Amorim, o Brasil iniciará agora a fase de negociação do contrato com a Saab, o que deve levar entre 8 meses e 12 meses até a assinatura. O recebimento dos primeiros caças é esperado pela FAB em 48 meses depois disso. A partir daí, a expectativa é de que cerca de 12 caças por ano sejam entregues ao Brasil.
De acordo com o comandante da FAB, a Embraer será a principal beneficiada pelo contrato com a empresa sueca no Brasil para a transferência de tecnologia.
"Quando terminar o desenvolvimento, nós teremos a propriedade intelectual desse avião, isto é, acesso a tudo", afirmou o comandante da Aeronáutica.
Um dos fatores que mais pesou para a decisão pelo Gripen NG, segundo Saito, foi o preço mais barato entre os três concorrentes e também a possibilidade de fabricar a maior parte dos aviões no país.
"Cerca de 80 por cento da estrutura do avião será feita no Brasil", afirmou o comandante.
Amorim disse que os desembolsos para a compra dos caças suecos não terão impacto no Orçamento deste ano nem no de 2014, o que representa uma pressão a menos sobre o caixa do governo. A FAB foi além, ao afirmar que o governo negociará para tentar pagar pelos caças apenas após receber as 36 unidades.
Não está claro, porém, de onde virão os recursos para o pagamento da encomenda, se serão recursos do Orçamento Geral da União (OGU) ou se haverá alguma engenharia financeira específica para isso.
"O primeiro desembolso real nosso, em dinheiro, só no final da entrega", disse Saito, que comemorou a decisão, lembrando que trabalhava nesse projeto desde 1995.
Ele disse ainda que os 4,5 bilhões de dólares correspondem à oferta inicial e que o Brasil ainda "vai pechinchar ao máximo".
Amorim afirmou que, pela proposta apresentada pela Saab, todo código fonte do sistema de armas será repassado ao Brasil e que não há preocupação com o fato de que parte do caça sueco depende de fornecedores norte-americanos, o que gera dúvida se toda a tecnologia poderá ser transferida.
O ministro lembrou, por exemplo, que a turbina do Gripen é produzida nos Estados Unidos, mas disse não acreditar que isso gerará um problema de transferência de tecnologia.
"Nós temos boa relação com os Estados Unidos. Diariamente, nós compramos partes e peças de outros aviões. Não há temor", disse o ministro.
DECISÃO POLÍTICA?
Amorim e Saito negaram que a decisão pelo caça sueco tenha sido motivada por questões políticas, após denúncias de que a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos havia espionado empresas e cidadãos brasileiros, assim como comunicações pessoais de Dilma.
"A avaliação técnica da Aeronáutica indicava (que o Gripen era) a melhor proposta", declarou Amorim. Saito afirmou que a própria presidente lhe disse que a "escolha foi técnica".
Mas o aparente favoritismo da Boeing em parte do processo ensejou dúvidas se na reta final a empresa norte-americana não havia sido preterida pela denúncia.
"Nas próximas semanas, nós trabalharemos com a Força Aérea Brasileira (FAB) para entender melhor sua decisão", afirmou a Boeing em comunicado.
A Dassault também teve seu momento de favorita na disputa, especialmente no mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a sinalizar preferência pelo caça francês.
A empresa francesa lamentou a escolha do governo brasileiro e disse em comunicado que o sueco Gripen é um avião mais leve e de único motor que não coincide com o Rafale em termos de desempenho e que, portanto, não tem o mesmo preço.
O analista do setor aéreo do Teal Group, Richard Aboulafia, disse que o Rafale sempre foi a solução mais cara que apelava para o argumento de transformar o Brasil em uma superpotência tecnológica, mas era mais do que o país precisava.
"O F-18 era perto do que eles queriam, mas isso deu errado por razões fora do âmbito aeroespacial", acrescentou Aboulafia.
"A ironia é que esperávamos que a política desempenhasse um grande papel para favorecer o lado da venda, e não prejudicar. Mas as coisas foram muito mal com essa história da NSA", acrescentou o analista.
O programa FX-2 surgiu em maio de 2008, depois de uma tentativa anterior de selecionar um novo caça para a FAB iniciada em 2001. As aeronaves substituirão a atual frota da Força Aérea, que está obsoleta.

(Reportagem adicional de Brad Haynes, em São Paulo)

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